Para nós, seres humanos, viver consiste em proceder a passagem de tudo que é abstrato para o concreto, ou do que se transforma em real a partir do virtual. Chamamos de abstrato ou virtual toda a realidade aparente, que possui em si mesma uma característica etérea, não obtida através de nossas capacidades sensíveis, mas apenas produzida por meio de potencialidades espirituais, estranhas aos nossos cinco sentidos.

Pois que estamos imersos na fluidez do espaço, caracterizando-o como real apenas no entorno de nossa circunscrição, o mesmo ocorre no que diz respeito ao tempo, que é real apenas no transcorrer de seus momentos, importa reconhecer que vivemos cercados por virtualidades espontâneas não advindas de nossa realidade corporal física, mas sim proveniente de outras dimensões que nosso corpo possui, sua transcendência.
Dessa forma, nosso viver nos transparece pleno de virtualidades, significando com isso a sua total dependência a fatores aleatórios, nos quais o que é importante realçar é sua ocasionalidade fortuita, não fosse os apelos de nossas crenças em algo superior, transcendente às vicissitudes que nos afetam. Assim, ter uma crença é ultrapassar os limites de nossas fortuidades, na certeza de que sem ela, ficamos como que perdidos no sem sentido do viver.
Neste caso, a percepção de que todos nós somos influenciados por uma Providência que dirige nossa vida e nosso futuro de maneira a oportunizar a ocorrência de detalhes não percebidos em nossa imediatez, nos confirma a oportunidade de suas ocorrências, nos garantindo assim uma fé sobrenatural de que nossa vida tem um destino já delineado.
Dessa forma, fica evidenciada a sobrenaturalidade de nossa vida, que se consubstancia em concretizar valores durante nossa existência, um esforço que vale a pena perseguir, sem embargo de nossa fragilidade. Contudo, a Natureza acolheu a presença de um ESPÍRITO em nossa consciência, que nos inspira na prática do bem, apesar de nos encontramos presos na caverna de nossa ignorância, como enfatizou PLATÃO em sua alegoria, no livro sétimo da República. Se, em vez disso, praticamos o mal, corremos o risco pelos efeitos prejudiciais que ele acarreta. Por isso, precisamos evoluir no sentido do bem que nos liberta, transformando-nos em pessoas dignas de possuir a vida, mesmo ela sendo consistente apenas a partir de tudo que é virtual.