Para entender isso, importa inicialmente fazer a distinção entre nossos aconteceres ocorridos a curto prazo e aqueles ocorridos a longo prazo. No curto prazo, a influência de nossa vontade parece ser a que prevalece na escolha de nossos atos. Com isso, fica reconhecido nosso livre arbítrio. Não obstante, no longo prazo, a sucessão dos acontecimentos que nos atingem, nos leva a reconhecer a ocorrência de coincidências não dependentes de nossa vontade e que acabam por decidir nosso destino.

Ora, assim como na natureza física, tudo o que ocorre é proveniente das condições antecedentes, assim também, em nossa vida, no longo prazo, tudo o que nos acontece parece estar determinado por um destino que ultrapassa nossa capacidade de deliberação, dando-nos a impressão de que fatos acontecem em função de um desejo que não depende de nossas iniciativas.

É como se houvesse uma força transcendente a determinar como nossa vida devesse ocorrer, o que nos induz a reconhecer que estamos neste mundo para cumprir um destino que nos foi previamente traçado. Neste caso, importa reconhecer que a realidade de tudo não se encontra em nossas mãos, mas sim numa Providência que estabelece a sucessão dos acontecimentos, seja no mundo exterior, seja no decorrer de nossa vida.

Dessa forma, podemos nos sentir mais tranquilos pois só nos acontecerá o que a Divina Providência permitir, o que significa o aumento de nossa confiança quanto ao que acontecerá no futuro. Eis então que podemos conceber a existência de um Espírito atuante na Natureza, conciliando os opostos e permitindo que a evolução aconteça, segundo Seus desejos.

Eis então como as argumentações de DAVID HUME no que se refere à noção de causa, se tornam insensatas, por não termos como afastá-las da realidade, que mesmo de forma virtual, condiciona todo o processo criativo, seja na Natureza, seja no transcorrer de nossa vida. As coisas se desenrolam dessa forma, porque há uma fonte primeva, um Criador que faz surgir todas as coisas de uma forma e não noutras.. Tal determinismo é deliberação de nosso Espírito, presente em nossa realidade subjetiva, como o móvel fundamental que orienta nosso destino na visão de longo prazo dos aconteceres que determinam nosso porvir. Que saibamos reconhecer o privilégio de gozar de tamanhas graças a nós dispensadas e que nos assegura o que deve acontecer.