A complexidade encontrada por nós quando se trata de conceituar o que é a verdade é resultado das inúmeras variações de significado que a ela podem ser atribuídos. A filosofia clássica distingue três formas básicas de expressão da verdade: lógica, ontológica e moral. Assim, a verdade lógica é uma coerência entre dois termos, a verdade ontológica é uma tautologia, a coincidência do que se afirma com sua natureza, a verdade moral deve expressar a coincidência de nossos atos com a realidade. De especial interesse é a verdade ontológica, por nos indicar a coincidência do que é consigo mesmo: o que é, é real em si mesmo.

Sto. Tomás de Aquino
Na continuidade, a verdade artística é uma ficção, a verdade científica é a coincidência da experiência com o real, a verdade religiosa é o nosso pleno assentimento aos milagres que se constatam, a verdade coletiva é o panorama aceito pela opinião pública. Isto não obstante, todas estas expressões da verdade repousam eo ipsum, numa convicção subjetiva de convencimento, do qual resulta o fator subjetivo de sua aceitação.
Dessa forma, o conceito de verdade fica dependente de circunstâncias não apenas pessoais, mas podem ser resultado também de influências momentâneas, os modismos paradigmáticos que a civilização constantemente incute na vida de cada um. Assim, cada momento histórico vive dentro de sua própria realidade, com os limites e as esperanças de que a realidade um dia possa se transformar.
Aderir à verdade é ficar disponível no encontro a uma realidade não apenas acessível aos nossos cinco sentidos, mas que se encontra, sobretudo, nos degraus de nossa transcendência espiritual, que não se encontra nos limites naturais de nossas observações, pois somos seres dotados de espiritualidades oferecidas a nós de forma gratuita, a partir de nossas origens não apenas naturais.
Como nos afirma o Evangelho, conhecereis a verdade e ela vos libertará (Jo 8:32), nos indicando que a verdade cristã nos livrará de nossas limitações naturais, o que significa a precedência da verdade religiosa sobre todas as demais espécies de verdade leiga. Ora, este assentimento se dá pela obtenção de uma graça que não depende apenas de nossas disposições, mas é resultado de um privilégio concedido a cada um por arbítrio da Providência. É por isso que a obtenção da verdade é transcendente.