Aporias entre criação e destruição

Os acontecimentos não são contraditórios. É o nosso espírito que, ávido de manter as identidades, verifica possíveis alterações no estado de cada coisa, constatando possíveis aporias, pois, sem dúvida, podemos verificar que no mundo das probabilidades impera a virtualidade de todos os aconteceres. A verificação das reciprocidades se opera, portanto, em nível abstrato. Ora, a constatação desse fato gerou a primeira divergência no mundo pré-socrático (sec V a.C), entre PARMÊNIDES de Eléia E HERÁCLITO de Éfeso, o primeiro defendendo a estabilidade ontológica de tudo o que é, enquanto o segundo propugnava que tudo muda (panta rhei).

Dessa forma, podemos verificar que o debate entre permanência e mudança começou cedo na história da filosofia, atingindo mais tarde PLATÃO E ARISTÓTELES, que ficaram desafiados a dar uma solução razoável para o problema. Enquanto que para o primeiro a dialética é o recurso que nossas ideias possuem para alcançar a verdade, para o segundo, há que fazer a distinção entre pensar demonstrativo (pela lógica) e pensar dialético, que ocorre apenas no mundo etéreo das ideias.

Como se sabe, a Idade Média pouco alterou essas concepções, devendo-nos assinalar que a partir do sec XIII o monge GUILHERME DE OCKAM, propôs sua célebre navalha como instrumento para atingir a verdade (simplicidade das provas), inaugurando assim uma forma nova de prática empírica e indutiva. Ora, a partir desses novos posicionamentos, viu-se a cultura europeia tomada por um arroubo de inovação, fazendo surgir as primeiras práticas científicas. Assim, no sec XVII, puderam surgir as invectivas de DESCARTES e NEWTON, os verdadeiros heróis das novas posturas no mundo do conhecimento.

O sec XVIII gerou o grande GEORG FRIEDRICH HEGEL que, em notável síntese de pensamento, propôs a existência de uma dialética espiritual, constituída de tese, antítese e síntese, ao mesmo tempo em que caracterizou o Espírito como subjetivo, objetivo e absoluto, os três momentos em que a vida dialética se manifesta, abrangendo assim a totalidade das manifestações culturais e espirituais.  Não obstante, seu discípulo K. MARX  colocou-o com os pés no chão e entendeu a dialética como engajada no meio social, (luta de classes).

Foi então que seu discípulo FRIEDRICH ENGELS propôs as três leis da dialética, assim resumidas:

  • lei da interpenetração dos contrários
  • lei da transformação da quantidade em qualidade
  • lei da negação da negação

Dessa forma, em primeiro lugar, podemos verificar que tudo na Natureza tem o seu lado positivo e negativo; segundo, que o aumento de casos altera a sua consistência, bastando verificar o acúmulo de conhecimentos, as doenças ou a alteração dos preços; e, finalmente, que normalmente duas negações, quando ocorrem, tornam-se positivas (em álgebra, menos com menos dá mais), que morrer não significa o fim, mas um eterno recomeço, etc.

Em conclusão, ligada à entropia, a destruição das coisas não nos deve assustar, pois faz parte da dialética da continuidade e sustentação do processo criativo. O Espírito, em Sua Sabedoria, nos certifica que nossa existência não se tornaria possível, não fosse a perene sucessão das gerações. Amém.