Sobre as realidades virtuais

Em intensidade crescente, todos temos sido testemunhas de que as experiências virtuais estão cada vez mais ocupando um lugar central em nossas vidas. Tendo por origem os processos acelerados das transformações tecnológicas, a relatividade do espaço-tempo, os computadores, a instantaneidade fugidia das imagens televisivas, tudo se torna momentâneo, provisório, descartável, artificial, substituível.

Produtos de nossa capacidade espiritual, as experiências virtuais tendem a se tornar cada vez mais presentes em nosso corpo, em nossas linguagens, em nossa economia, em nossas tecnologias. Como ocorrências presumidas, o mundo virtual não é apenas o mundo do imaginário, mas resulta da atualidade interativa entre o real e o possível, como resultado da inteligência coletiva.

A virtualização do corpo é a sua imortalidade simbólica, seja em clonagens, operações plásticas, imagens da tv etc; as linguagens, por sua vez, representam o paraíso da virtualidade, seja na sua produção, na sua leitura, tradução, interpretação etc; a economia desterritorializou-se, o mercado depende da propaganda, as moedas são apenas cifras, e o fenômeno da globalização a tornou volátil.

A respeito dos modos de ser, os autores (Pierre Lévy, G.Deleuze) concordam que são quatro: o real, o possível, o atual e o virtual, todos possuindo o mesmo perfil simbólico, variando apenas na ênfase de suas formas. Dessa maneira, enquanto o real e o atual são manifestos, o possível e o virtual são apenas latentes.

Não obstante, quais as relações entre o real e o possível ou entre o atual e o virtual? Respondendo, o real é uma das expressões do possível, enquanto o atual é a concretização do virtual : “o virtual é como uma situação subjetiva, uma configuração dinâmica de tendências, de forças, de finalidades e de coerções que uma atualização resolve” (Pierre Lévy, O que é o virtual? S.P, Ed 34, 1996,p.37).

Ora, resulta evidente que os quatro modos de ser são apenas momentos de passagem, num intercâmbio sem fim de situações provisórias, pois neste mundo e na nossa mente nada é estático, tudo permanece (sic) em constante transformação, seja como realização, potencialização, atualização ou virtualização, operando juntos a cada momento.

Em virtude disso, constata-se hoje que o fenômeno da virtualização não é recente, pois, desde que o homem é homem a imaginação, a memória, o conhecimento e a religião têm sido fatores poderosos de fuga do real, contribuindo decisivamente para atingir o novo, o simbólico, o onírico, o onipresente (M.Serres).

Dessa forma e como conseqüência do aumento de nossas experiências virtuais, não podemos deixar de enfatizar que elas apontam para algumas conclusões decisivas:

1ª) a importância da dimensão coletiva da inteligência

2ª) na sociedade virtual os modos de viver, agir e pensar adquirem um enorme poder de influência

3ª) um novo psiquismo afetivo torna-nos mais sensíveis às injustiças que são cometidas, reforçando um novo humanismo.