A força indutora da oração

Na experiência de que nosso espírito é centelha semelhante Aquele cuja transcendência é ao mesmo tempo imanente a tudo que acontece, nossa fé passa a reconhecer que há uma Ordem Superior que comanda todos os acontecimentos, gerando um determinismo cósmico acima de todos os acasos. Ora, este fato torna a prática da oração de uma eficácia antecedente ao que se pede, bastando apenas o fervor com que os  conteúdos sejam invocados.

Orar significa invocar as luzes superiores que comandam o Universo, implícitas que estão  na unidade que compõe o complexo universal. Ora, porque o mundo criado não tem, em si mesmo, as justificativas de sua existência e é nosso espírito que demanda tal questionamento, importa reconhecer que não há diferença essencial entre o todo fenomênico e o que nosso espírito experimenta, demandando apenas nossa disposição em recorrer aos apelos que sentimos por nossas deficiências.

Pois que há um Espírito Transcendente comandando as ocorrências e nossa fé se vê alicerçada numa condição que não é aleatória, resulta que a oração é o processo mais adequado para se obter  os resultados desejados, inseridos que estão num estofo de  mútua dependência. Como um processo virtual, a oração é uma prática cuja eficácia depende apenas de nosso fervor em dar-lhe crédito, pois que está inserida no estofo original do Universo, como um apelo que depende apenas de nossas  invocações.

O fato de muitos de nossos pedidos não serem atendidos segundo nossos desejos, apenas confirma o fato básico de que, no Universo, existem condições inelutáveis impostas pela Necessidade, as leis básicas da Natureza que são para nós como que absolutas, impostergáveis. Ora, a finalidade da oração consiste justamente em superar aqueles determinismos, através de nosso clamor subjetivo.

É dessa forma que SÃO PAULO  nos recomenda, na carta aos Filipenses (4:6), que ao iniciarmos nossas orações, devemos  manifestar nossos  agradecimentos perenes por tudo o que nos tem sido concedido, os benefícios gratuitos recebidos. Assim, vivendo em atitude mística com relação a tudo que ocorre em nossa vida, haveremos de obter a graça de quem está em sintonia com a Fonte Imarcescível que nos sustenta.

Há orações formuladas e há também apenas um diálogo permanente sentindo a presença da Providência sempre em nossa companhia. Ambas são oportunas, por refletirem o ardor de nossa fé, que de qualquer forma deseja  superar limitações existenciais. Assim, ao contrário do que pensou o existencialismo ateu (SARTRE, CAMUS), a vida tem sentido e é inerente à graça da criação, como coroamento e superação das deficiências que reclamam permanentemente nossa adesão a algo transcendente.

STO. AGOSTINHO, ao orar, sempre invocava o Deus que era mais íntimo a ele do que ele próprio, dando sentido a um realismo místico que acontece naturalmente no sentimento de cada fiel, quando é vivido na autenticidade da graça disponível. Ora, porque a fé é uma doação transcendente, nossa atitude humilde deverá ser aquela como de Jó, passiva diante do que nos é destinado. Dessa forma, coroam-se os benefícios da força indutora da oração, inserida fenomenologicamente como complemento  natural na ordem das coisas.