O nada que é tudo

Dentro da semiótica da linguagem, importa aceitar o princípio lógico de que quanto mais um conceito é extenso, se aplicando a muitas coisas, menos ele se torna compreensível, por ausência específica de conteúdo. Como exemplo, o conceito mais extenso é o de SER, que se aplica a tudo, mas se torna muito próximo do nada ou do não ser (SARTRE), por não ter consigo um predicado específico que o identifique. Contudo, podemos alcançar o máximo de compreensão se nos referirmos apenas à individualidade dos conceitos, como a especificidade dos objetos e das pessoas. Em contraposição, para PARMÊNIDES de Eleia, o ser não pode não ser; é tudo, não havendo espaço para o nada.

Tudo e Nada são categorias mentais criadas pelo Espírito, que joga sua virtualidade nos extremos da imaginação, os limites possíveis concebidos sobre a existência ou não de todas as coisas. Este salto quântico está presente especialmente quando nos referimos ao conceito de DEUS, que O concebo sempre presente em todas as coisas, mesmo reconhecendo que eu nunca posso atribuir-lhe um atributo próprio. Não obstante, Sua caracterização como Pessoa nos oferece uma indicação ontológica de Sua Substância.

Assim, a ambiguidade entre os conceitos de tudo e nada se torna quântica, por se manifestar em saltos recíprocos de significação, não podendo ser representados de forma autônoma. Como dois paradoxos em relação, são apenas lugares retóricos que se co-implicam. Não obstante, pelo foco das ciências físicas atuais, o nada não existe, como vácuo absoluto de qualquer atividade, pois há sempre nele a presença de matéria escura ou gases que flutuam ao sabor de suas variações energéticas. Então, o tudo substitui o nada, resultando dessa forma a confirmação de que o conceito de nada é puramente retórico, uma abstração de nossa mente, ávida na concepção dos dualismos.

Ora, isso vem confirmar a anfibologia quântica dos conceitos, que se conciliam no momento mesmo de sua reciprocidade, quando o alcance à verdade se processa na medida em que se anulam as oposições, indicando que a presença desse silêncio ontológico confirma sua correlação com a substância primordial de tudo que existe. Segundo a sabedoria oriental, pelo silêncio, ao afastar todos os conteúdos de nosso pensamento, podemos alcançar o TAO, que se chama justamente Nirvana (nada do querer). Ora, isto constitui uma teologia negativa muito semelhante àquela propugnada por MEISTER ECKHART (1260/ 1327):” Não há nada em toda a criação (existência) tão semelhante a Deus quanto o silêncio”. Daí que o nada de conteúdo no pensamento se torna o caminho budista privilegiado para o encontro com o tudo.

O fato da correlação do Absoluto com o Universo criado e a presença em nós de uma Consciência nos indica que há uma Tríade Virtual sustentando a realidade, uma reciprocidade essencial infinita que é eterna em seus propósitos, sendo nós, seres humanos, incluídos nesse privilégio. Por isso nossa morte é apenas uma transformação, a escalada para uma espiritualidade pura, vis-a-vis com o Criador, conforme nos assegura S. PAULO na Epístola aos Efésios (4,30): “Não contristeis o Espírito Santo com o qual Deus vos marcou como com um sinete para o dia da libertação”.