O sexo, sob perspectiva cultural

O cristianismo antigo sempre considerou a sexualidade como algo demoníaco e maniqueísta, que os modernos tendem a superar. Contudo, convém considerar se a atual libertação sexual tem sido fator de maior felicidade ou agregação social; só nos resta esperar que com a evolução educativa da humanidade, ela possa viver mais tranquila em relação a sua sexualidade. A visão cultural, semiótica e simbólica da sexualidade aqui proposta, pretende contribuir para um melhor equacionamento do problema.

Assim, a partir das conquistas científicas obtidas com a ideia do embaralhamento quântico, demonstrado pelo convívio harmonioso das micropartículas, que são também ondas, nada nos impede de supor que nossas experiências macrocósmicas igualmente obedecem aos mesmos condicionantes, essenciais à desenvoltura de nossas realidades naturais. Um exemplo complexo disso nos é trazido pela experiência sexual, que, por suas perspectivas diferenciadas, nos permite tratá-la de forma integrada, seja em suas dimensões biológicas, éticas ou maniqueístas.

Dessa forma, sob perspectiva biológica, não podemos esquecer que nós, seres humanos, somos dotados também de espiritualidade e livre arbítrio, o que nos permite decidir como regular nossos impulsos sexuais, seja de forma, apenas instintiva ou, ao contrário, de forma morigerada, até atingir uma completa ausência de práticas sexuais, o que parece fazer bem  ao organismo em sua sustentação endocrinológica.

Em assim sendo, temos que considerar que a sexualidade resulta de um estímulo hormonal que não é permanente, mas que varia em função da faixa etária que o ser humano está vivendo, tornando-se raramente impulsivo na velhice. Ora, isso significa que a sexualidade foi prevista pela Natureza como destinada à procriação, e apenas isso? O prazer que a sexualidade provoca é o orgasmo necessário à procriação. Afora isso, a sexualidade pode contribuir para aumentar a felicidade dos longevos?

Por outro lado, em suas dimensões éticas, as práticas sexuais implicam na consideração de que nossas relações afetivas com outras pessoas, sejam masculinas ou femininas, de acordo com as condições de nossas aptidões, envolvem motivações de responsabilidade mútua, respeito e tolerância, que são condições essenciais à sustentação de um convívio harmonioso. Além disso, temos de considerar que as conquistas tecnológicas, que nos oferecem mais liberdades nas práticas sexuais, por outro lado, tornaram-se também motivos de muitas preocupações sobre como elas se sustentam, as quais, lamentavelmente, a experiência tem demonstrado não serem harmoniosas, gerando violência e desamor.

Finalmente, em perspectiva do bem e do mal que as práticas sexuais poderiam envolver, temos que considerar diferentemente as consequências individuais ou sociais que elas estão a nos provocar. Não por acaso, as ideias desenvolvidas por PLATÃO em seu diálogo socrático O Banquete (sobre o Amor), nos ajuda a considerar as virtudes existentes entre o amor erótico (Eros), o amor filial (Philia) e o amor divino (Ágape), variações ontológicas do fenômeno amoroso, oferecendo que cada um de nós tem a liberdade de escolher qual seria o melhor caminho a modelar nosso destino. Como nos assegura STO. AGOSTINHO, “ame e faça o que desejar”, pois o amor verdadeiro só pode produzir bons resultados.