TALES DE MILETO – Doxografia

Na ausência de dados concretos sobre a vida e a obra do primeiro filósofo grego, o texto nos brinda com uma doxografia (de doxa, opinião), ou seja, diversos comentários de alguns filósofos posteriores sobre o mesmo. Assim temos:

ARISTÓTELES: Para este filósofo, os chamados pensadores pré-socráticos tiveram como preocupação o estabelecimento de um elemento ou princípio físico que pudesse dar explicação para o surgimento de todas as coisas (arqué), que para TALES era o elemento água, depois de ter observado que tudo na Natureza contém alguma forma de umidade. Depois, no opúsculo Da Alma, comenta o fato de que TALES pensava que tudo está cheio de deuses (hilozoísmo), a partir do movimento de tudo, como a pedra imantada que atrai o ferro.

SIMPLÍCIO: em sua Física, comenta o fato de que, para Aristóteles, os físicos pré-socráticos foram deficientes em submeter a causa de todos  os fenômenos a um princípio sensível, como fez TALES ao observar que tudo contém uma forma de água.

CRÍTICOS MODERNOS

GEORG FREDERICO HEGEL: Comenta que a filosofia começou estabelecendo absolutos, depois de divinizar todos os objetos, considerando-os sagrados, como deuses. Ora, sobressumir os fenômenos, considerando-os como um em-si e para-si é uma exigência singular de nosso espírito, que deseja  superar a constante transformação das coisas , o que constitui o motivo de fundo para todos os pensadores. O erro de TALES foi considerar um elemento físico como algo universal, abstrato.

FRIEDRICH NIETZSCHE considera razoável e próprio que TALES tenha considerado a água como princípio universal, por três motivos:  primeiro, porque esta proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; em terceiro lugar, porque nela está contida, em gérmen, a expressão “Tudo é Um”. Ora, isto faz de TALES o primeiro filósofo grego, porque estabeleceu, pela primeira vez, um princípio que não é apenas de natureza científica, mas que caracteriza, de forma especial, o pensamento filosófico: a superação da empiria, a todo custo.

Nietzsche comenta o feito extraordinário de Tales, ao superar uma verdade que não é apenas simbólica, mas que guarda uma relação empírica com os fatos, demonstrando ser não-místico e não-alegórico, o que era comum em seu tempo. Como astrônomo, foi um observador frio do Universo, um verdadeiro sábio (de sapiens, degustador), a arte peculiar do filósofo.