A textura substancial da alma

Desde a mais remota antiguidade, é crença popular de que nosso corpo é dual, constituído de matéria e algo mais subtil, uma alma que é a essência mais íntima de nosso ser. A filosofia grega, em seu apogeu, veio confirmar essa tradição, com SÓCRATES, PLATÃO e ARISTÓTELES, todos defensores de que somos possuidores de uma alma imortal, por suas características em nos permitir superar os determinismos de nosso corpo e por sermos possuidores de ideias abstratas, superando o tempo e o espaço. A procura do bem é o farol que ela deseja colimar.

Plotino, um dos principais filósofos do mundo antigo.

Não obstante, com o advento da física quântica, temos que reconhecer que o Universo passou a ter características bastante estranhas, alterando completamente a forma pelas quais até então nós considerávamos a natureza das coisas, substituindo-as por princípios até então não reconhecidos pela sua versão clássica, introduzindo fatores simbólicos que alteraram a natureza de tudo, colocando o Universo como centrado apenas em nosso conhecimento, produto de um software oscilante.

Dessa forma, esses novos aspectos vieram a alterar nosso conceito clássico de alma, tornando-o muito mais explícito quanto a sua verdadeira natureza, substancial no desempenho de nosso corpo, razão de sua essência como vida. Assim vejamos:

1) Em primeiro lugar, as características de nossa personalidade. Quando nascemos, somos moldados com perfis muito pessoais, um rosto exclusivo e um software (dna) muito original, que será decisivo a determinar nosso comportamento futuro. Ora, esta unidade pessoal  é indivisível em sua natureza, dando-nos uma indicação de que não somos clones na série infindável dos modelos.

2) Por outro lado, se tudo oscila em termos de onda ou partícula, nossa alma deve também se alternar, ora autônoma em sua oscilação, ora submetida aos determinismos da materialidade. Este fato acaba determinando o sentido de nossas ações, alguma vez mais indiferente, certa vez mais autônoma. Saibamos, pois, escolher bem entre nossa alma que fica presa à materialidade e aquela que voa sozinha em sua independência ondulatória.

3) Se o mundo quântico é todo ele imprevisível por seu indeterminismo local ou velocidade, como provou WERNER HEISENBERG, nossa alma igualmente varia muito em suas maneiras de reagir diante dos vários estímulos que nosso corpo físico estabelece, forjando assim as características básicas de nossa personalidade. Com isso, temos respeitado nosso livre arbítrio.

4) As pesquisas procedidas pelos físicos no âmbito das micropartículas indicam que elas reagem de acordo com os pressupostos assumidos por eles, o que nos demonstra  que o Universo está a mercê de uma Deliberação Soberana ou prevalência de uma Intenção Universal a prover todos os acontecimentos.

5) A teoria quântica supera a descontinuidade do tempo, tornando tudo como um instante mágico de aconteceres, no qual subjaz uma Consciência Cósmica Transformadora, sem a qual tudo perderia o sentido. Por isso nossa alma, como centelha dessa Consciência, perdura infinitamente no ocaso de sua oscilação, diante de um mundo presente como um realismo mágico, o instante quântico de uma transformação evolutiva, aparentemente incerta, mas concreta.

Dessa forma, independentemente do tempo e do espaço, nossa alma passa a ser como uma mônada em sustentação própria (LEIBNIZ), alcançando sua perfeição pelos valores intrínsecos dos atos cometidos, que quanto mais se tornam conscientes, mais nos predispõem a nos tornarmos perenes em nossas ondulações, como ocorre na vida dos Santos, presentes em sua eternidade. Amém!