Sobre conhecimentos transcendentes

As pesquisas confirmam que há mistagogias reveladoras (aprendizados místicos), que procuram identificar a Divindade por tudo aquilo que ela possa significar, enfatizando que a sua percepção por nós deve se dar na atmosfera transparente de sua pluridimensionalidade, como um Deus transparente ou abscôndito, que se nos revela apenas indiretamente, na medida de Suas evidências gratificantes.

Santo Tomás de Aquino, que completou setecentos anos de sua canonização a 18 de Julho de 1323

Tais limites se manifestam também dentro da semiótica de nossa linguagem, importando aceitar o princípio lógico de que quanto mais um conceito é extenso, se aplicando a muitas coisas, menos ele se torna compreensível, por ausência específica de conteúdo (o nada que é tudo). Como exemplo, o conceito mais extenso é o de SER, que se aplica a tudo, mas se torna muito próximo do nada (SARTRE), por não ter consigo um predicado específico que o identifique. Contudo, como compensação, podemos alcançar o máximo de compreensão se nos referirmos apenas à individualidade dos conceitos tomados em si mesmos, quando como nos referimos a Deus como a especificidade plena de tudo.

Dessa forma, enquanto a teologia ortodoxa é chamada de catafática, porque se estrutura a partir das indicações positivas que o Universo nos apresenta confirmando a existência de Deus, a teologia negativa é chamada de apofática, ao denunciar nossas dificuldades em reconhecer Sua Presença. SANTO TOMÁS DE AQUINO, no sec XIII, tornou-se célebre ao defender as vias naturais para o reconhecimento de Deus.

Segundo a sabedoria oriental, pela meditação podemos alcançar o TAO, que se chama justamente Nirvana (consciência do nada), afastando todos os conteúdos de nossa mente, o que constitui uma teologia negativa muito semelhante àquela propugnada por MEISTER ECKHART (1260/ 1327):” Não há nada em toda a criação (existência) tão semelhante a  Deus quanto o não dizer”. Retrocedendo, os esforços dos filósofos para conciliar este silêncio de Deus com a revelação cristã se desenvolveram de forma acentuada a partir do século III, com os neoplatônicos, especialmente em PLOTINO e o PSEUDO-DIONÍSIO AREOPAGITA, este oriundo da Síria, na Idade Média, e defensor de um misticismo obscuro, pela vivência com DEUS a partir das raras indicações de Sua Presença, como sejam, a matemática da Natureza, as proporções definidas, as intuições do Uno, do Bem e da Verdade.

Ainda segundo os neoplatônicos, Deus obscuro é incentivo para aumentar nossa surpresa e a nossa fé, fortalecendo assim nossos laços com a liturgia e as práticas rotineiras da religião, sem as quais elas perderiam o sentido. Da mesma forma, os limites do Tudo e do Nada não são categorias mentais concretas, ao se colocarem nas fronteiras de uma retórica inconsistente, pela precedência do UNO que se nos impõe como presença irredutível em tudo o que existe.

A história da teologia negativa conta ainda com a presença de um dos grandes místicos da Igreja, SÃO JOÃO DA CRUZ, este um monge carmelita do séc XVI, no qual a Noite Escura é o sofrimento da alma pela ausência de Deus, que só pode ser compensada pela poesia da humildade e do desprendimento esperançoso. Já no século XIX, SÖREN KIERKEGAARD, filósofo dinamarquês, considerado o fundador do existencialismo, diante do sofrimento humano, lamenta nossa distância de Deus para nos consolar, tendo em vista nosso ceticismo.

Em compensação, conforme nos assegura S. PAULO na Epístola aos Efésios (4,30): “Não contristeis o Espírito Santo com o qual Deus vos marcou como com um sinete  para o dia da libertação”.  Assim sendo, pela fé, concretiza-se nossa esperança de que o silêncio de Deus não deve ser considerado como proposital ao Senhor, sendo apenas uma sombra em nossa condição de criaturas, sombra essa que se torna superada para aqueles cuja devoção recebeu o acolhimento das graças celestiais.