O poder holográfico das palavras

Referir-se ao poder holográfico das palavras é relacioná-las à sua potencialidade  de criar novas dimensões, como ocorreu no fenômeno físico-quântico do raio de luz, na experiência clássica desenvolvida por DENNIS GABOR, em 1947. Pois que as palavras proferidas por nós possuem um poder transformador da realidade, isto é algo facilmente constatado por nós em nossa experiência corriqueira, ao abrirmos a boca para proferirmos elogios ou impropérios.

E o primeiro exemplo do poder holográfico das palavras nos vem do hagiógrafo bíblico em Gen 1,3: “E Deus disse: Que a luz seja e ela se fez”. Ora, essa primitiva assertiva do Criador nos demonstra, pela primeira vez, que o ato de proferir palavras é sagrado em seus propósitos, e que foi concedido ao ser humano como analogia ao divino, cabendo a nós sermos cuidadosos em usar esse dom. Mesmo estando presente, de forma rudimentar, entre todos os animais, só à espécie humana foi concedido o poder divino de criar pelo dizer.

Nesse caminho, CRISTO concretizava seus milagres ao momento em que proferia palavras transformadoras. Reconhecendo seus poderes holográficos, ao ressuscitar os mortos, mandava-os se levantarem, retornando-os à vida e, por isso mesmo, aconselhava todos a serem parcimoniosos no falar, dada a importância de seus efeitos. “Que seja vosso falar, sim, sim, não, não” (Mt 5,37).

CHARLES MORRIS, pensador americano, que desenvolveu a semiótica da linguagem, caracterizou a sua distinção em sintática, semântica e pragmática, correspondente à relação de signo com signo, signo com os objetos e signo, objeto, pessoa. A relação signo/signo diz respeito à gramática das palavras ou sintática; a relação signo/objeto diz respeito às palavras com os objetos que designam (semântica) e a última diz respeito à pragmática, ou as reações das pessoas aos dizeres compartilhados.

JOHN AUSTIN, pensador britânico, em seu livro sobre os atos de fala, distingue-os como atos locutórios, envolvendo as relações sintáticas ou semânticas; atos ilocutórios, ou aquelas expressões que demandam a prática de um ato e atos perlocutórios, quando produzem um efeito sobre o interlocutor. Como se vê, Austin apreende, de forma incipiente, os efeitos holográficos da linguagem, caracterizando as diferentes transformações causadas pela força das significações linguísticas.

No momento em que se verifica a intensificação  dos meios de comunicação, vê-se igualmente a perda daquele comedimento necessário à higidez de nossos métodos de falar, fazendo-nos perder igualmente o sentido substancial de nossa linguagem, o que não deixa de ser um processo degenerativo acentuado nas comunicações verbais. Contudo, fica a cargo de cada um, se desejar obter um mínimo de conteúdo em suas palavras, manter-se em silêncio regenerador, respeitando a tradição milenar que sempre nos recomendou falar pouco, para termos mais paz.

As palavras ditas em oração constituem um caso a parte em seus efeitos holográficos, por serem dotadas de emocionalidade  contagiante, garantindo sua eficácia na medida de nossa fé e por nos colocar na presença da Fonte Criadora de tudo que constitui a nossa realidade existencial, como seres dotados da holografia transformadora das palavras, cabendo a nós apenas sermos gratos por tão divino privilégio.