Coronavírus, o parceiro da vida

Segundo PLATÃO, filosofar é aprender a morrer e sua realidade nos é tão próxima que vale a pena meditarmos um pouco sobre o que isso significa e, em momentos de sua intensa ocasionalidade, acelerada pela ação de micro-organismos destruidores, vale a pena tomamos consciência de sua natureza. Num primeiro aspecto, a morte nos é importante apenas a partir de nossa espiritualidade, pois, para os animais, ela nada representa. Também, no mundo das micropartículas, o sumir e o aparecer faz parte de todos os momentos de suas existências e isto ocorre de forma aparentemente aleatória.

 Já no mundo vegetativo, a morte faz parte essencial na renovação da vida, o mesmo ocorrendo com os micro-organismos, que exageram na reprodução, com vistas a superar a brevidade de suas vidas, sendo indiferentes aos efeitos maléficos ou benéficos que possam causar. Em complemento, no mundo animal, com raras exceções, matando é que se sobrevive, sendo a morte o instrumento necessário para a sustentação da vida, fornecendo o alimento essencial à sua sobrevivência.

Já no tocante à vida humana, a morte assume características trágicas, por força da presença do Espírito que não a deseja, a morte sendo aceita apenas de forma ascética, levando a raça humana a tomar todas as providências possíveis no sentido de evitá-la ou superá-la ao máximo. Porém, na dimensão autotranscendente, aquela em que o Espírito orienta e domina a vida, a consciência da morte surge dotada de características inovadoras, superando sua gravidade, para se tornar um mecanismo de libertação das limitações da materialidade física, o momento de nossa inserção na infinidade do mundo divino.

Dessa forma, percebemos a intuição de que o Universo não é obra do acaso, mas que se sustenta, em sua evolução, de forma integrada para produzir vida e riqueza. Trata-se aqui de um milagre, uma abertura de nossa consciência ao propósito que tudo cria. De fato, crer que há um sentido para tudo que acontece é algo que supera as condições naturais de nossa existência, sendo mais uma graça recebida por todos aqueles que estão na antessala do eterno. A partir de então, a presença da centelha divina que habita nossa consciência nos permite ter certeza de nossa perenidade.

Assim, são superados os dramas referentes à interrupção de nossas vidas, ao considerar a morte como um momento de passagem, criando o palco divino de nossas garantias, onde habitam santos iluminados. Na perspectiva da Revelação Cristã, nossa sobrevivência está confirmada pelo exemplo de Cristo e dos Santos que nos acolhem permanentemente com as suas graças e favores, concedendo-nos a certeza de que há outra realidade além dessa em que estamos.

Assim, a fé se constitui como uma auréola divina a enriquecer os limites dos determinismos naturais, criando uma atmosfera etérea de certezas e esperanças quanto ao destino de nossas vidas, como expressões divinas de uma Vontade Soberana, ao se colocar além de nossa sensibilidade empobrecida. Quem crê verdadeiramente é feliz por força da inspiração que ela alimenta, diante de um Universo precário em sua sustentação. Assim, a morte não tem nenhuma importância, devendo ser considerada apenas como uma entrada nas virtualidades do eterno.