O espetáculo do mal

Em momentos de crise, fica evidente a oscilação do bem diante do mal, o que leva todos a sentir o fracasso de seus otimismos perante o milagre da vida. Não obstante, a consciência do mal se dá pela presença em nós de um Espírito que  nos conscientiza de nossa fragilidade, sendo a Natureza indiferente ao que acontece. Assim, não podemos deixar de constatar que há no Universo um dilema entre sua racionalidade e seus infortúnios, sendo estes o background das forças às vezes demoníacas que nos dominam.

 Assim, para garantir a sua autonomia, o Universo carrega consigo todo um estofo de aleatoriedade, causando-nos espanto como, em sintonia fina, ainda conseguiu se estruturar. A física quântica é fator de demonstração dessa precariedade. ALBERT EINSTEIN, a partir das pesquisas sobre como os átomos se comportam, relutou até o fim de sua vida em aceitar o probabilismo que afeta as micropartículas, defendendo a tese de que “DEUS não joga dados”. Contudo, as pesquisas posteriores comprovaram que ele estava errado, o que apenas reforça a hipótese de como o Universo, instável em seus princípios (o caos), ainda pôde se constituir de forma integrada, como cosmos (sic!).

ZENON de Citium, pensador grego pré-socrático, nos assegura que a humanidade sofre dois tipos de infortúnios, um natural, que apenas temos que suportar com estoicismo ou indiferença e outro moral, produto do uso de nossa liberdade e, por isso, evitável em suas consequências. De qualquer forma, a tendência humana é sempre exasperar os efeitos do mal, relegando ao mínimo a presença do bem. Isto se chama maniqueísmo, que perturbou bastante o pensamento de STO. AGOSTINHO .

A sabedoria oriental (taoísmo), por meio de uma homologia simbólica, criou os paradigmas yin e yang, ambos implicados em unidade circular, com a finalidade de representar esta mútua oscilação entre o racional e o ocasional, o branco e masculino (yang) implicado com (yin), preto e feminino; similar ao dia e a noite, o sol e a lua, confirmando que ambos se relacionam, e que um não existe sem o outro. Assim sendo, qual deveria ser nosso comportamento diante das tragédias que periodicamente nos atingem?

Só há um caminho, o apelo à fé, que o próprio Espírito nos oferece, como consolo à superação de nossos infortúnios. Dessa forma, a crença numa Providência que sustenta o orbe criado está inserida num contexto ontológico de sustentação aos apelos de nossas precariedades, na certeza de que elas são superadas. Esta certeza não é racional, por fazer parte de um Universo que em si mesmo carrega um aspecto obscuro, mas que, ao mesmo tempo, não é essencial em sua estrutura. Como rezou S.Paulo em Ef 6, 11-12:

“Revesti-vos da armadura de Deus, para estardes em condições de enfrentar as manobras do demônio. Pois não é o homem que afrontamos, mas os Dominadores deste mundo de trevas, os espíritos do mal que estão nos céus”.

Na revelação cristã, CRISTO nos assegura que a mal não é substancial, representando apenas um momento de conscientização para outra realidade, o Reino Eterno da Espiritualidade Transcendente. Em complemento, a morte nos desafia sobre a necessidade de concretização de um novo patamar em nossas virtudes morais, sempre ameaçadas pelas atrações luciferinas. Dessa forma, saibamos tirar bons resultados desse momento trágico que estamos atravessando, e que as vidas perdidas não se tornem vãs.