Esperando Godot

A peça teatral de autoria de SAMUEL BECKETT (1906-1069), dramaturgo irlandês, escrita em 1953, trata dos dilemas surgidos pelas expectativas da presença e da ausência, o paradoxo de alguém que nunca chega, apesar da esperança dos personagens, que ao fim de cada capítulo, se frustra. Ele sofreu forte influência dos literatos seus contemporâneos, J. JOYCE, J. P. SARTRE e Albert CAMUS, sendo considerado o último dos modernistas.

Samuel Beckett

A palavra Godot, mistura de God (inglesa) com o sufixo diminuitivo ot, do francês, é um misto pejorativo fazendo uma alusão a respeito da esperança dos cristãos sobre a segunda vinda de Cristo, tudo compatível com a herança cultural vigente entre os céticos da época.

Isto não obstante, temos que considerar, contrariando o enredo da peça, que a ausência (real) não aniquila a presença (virtual) de ninguém ou dos episódios por nós vividos, dados os  intrincados recursos de que dispomos, de lugares e objetos, cujo objetivo é manter viva a lembrança de alguém que nos pareça ser memorável. Com tais propósitos, mantemo-los na presença constante em nossa memória, um recurso vigilante patrocinado por nosso cérebro espiritualizado.

Em acréscimo, nossas lembranças dos episódios transcorridos durante  nossa vida acentuam a recordação de pessoas ou lugares que nos parecem se situar além do espaço e do tempo, os episódios que marcam nossas recordações, virtuais.

As fotografias e outras gravações constituem um sólido instrumento de permanência das passagens que durante nossa vida pudemos participar, garantindo assim a concretude virtual do que então está ausente, mas não esquecido.

Por fim, não devemos descurar de nossas crenças religiosas, que se constituem num manancial valioso de certezas virtuais, tendo por base as graças da fé, que não dependem de nossa vontade, mas que se constituem nos favores a nós concedidos pele benevolência das esferas divinas que nos orientam.

Pois a fé é uma alegoria semelhante ao fenômeno do encontro de um bem imperecível, uma pedra preciosa encontrada num terreno desértico, mas que tem em si a virtude de ser a concretização de algo que estava ausente. De fato, a fé remove ausências.