Implicações entre causas e efeitos

De percepção quase espontânea na Natureza, as relações entre causa e efeito são observadas por qualquer pessoa, mas foram cuidadosamente elaboradas por ARISTÓTELES, que as distinguiu em quatro categorias: causa material, formal, eficiente e final. Posteriormente, SÃO TOMÁS DE AQUINO (sec XIII), utilizou-as em suas provas demonstrativas da existência de um Criador, como forma de explicação para a existência do Universo. Aqui, constatação sensível e conclusão lógica estão em consonância. Dessa forma, como se observa, sempre houve o entendimento da existência de uma reciprocidade concreta (ou às vezes aleatória) entre causa e efeito, estabelecendo uma relação ora determinística, ora criativa entre os dois. Neste caso estão distintas as relações sensíveis e as apenas criadas por nosso espírito.

Não obstante, dentro de uma perspectiva empírica e cética, que exerceram forte influência em KANT, DAVID HUME (1711-1776) em seu tratado sobre o entendimento humano, nos assegura que há em nossa mente duas formas de obtermos conhecimento: as relações entre nossas ideias, como na lógica e na matemática: e os conhecimentos empíricos, dos quais só podemos constatar, sem poder estabelecer relações de causa e efeito, pois entre eles não há relação de dependência (sic).

Dessa forma, HUME deixou de considerar as relações simbólicas que pudessem existir entre causa e efeito, então causadas pela presença em nós de um Espírito que nos  capacita a estabelecer relações simbólicas entre eles, uma verdadeira poiesis de natureza semiótica e artística. Assim, dizer que o amor é um sentimento mais psíquico do que sensível constitui uma experiência que envolve relações simbólicas de afeição e desprendimento, um conjunto de coisas que se encontram além de quaisquer relações empíricas de causa e efeito. O mesmo ocorre nas considerações sobre a justiça, o bem ou a liberdade.

Contudo, com o advento da física quântica, no início do sec XX, verificou-se que entre as micropartículas ou ondículas impera o princípio da incerteza (EISENBERG), eliminando as relações de causa e efeito no sentido tradicional, tornando tudo apenas um jogo provável de efeitos, pois ora elas são partículas, ora são ondas, como na experiência da dupla fenda, de THOMAS YOUNG (1773-1829). Com isso, houve a confirmação de que as relações entre causa e efeito são mais de natureza indeterminada do que previsíveis. Ora, nossa razão fica suspensa diante dessas conclusões, exigindo que tornar-se-ia necessário encontrar uma justificação para a existência do Universo, que não poderia ter surgido apenas do puro acaso, dadas as condições complexas de coordenação de tantos fatores aleatórios necessários à sua concretização.

Da mesma forma, verificamos que o apelo, de forma não natural, a um Atrator que permitiu a evolução e a transformação do caos em cosmos resulta plausível, assegurando assim nossa abertura para uma fé mais sensata. Não obstante, ter tais conhecimentos é estar de posse de uma crença bem próxima do simbolismo, não só apenas imaginativo, porquanto vincado em relações simbióticas.

O Universo precisa encontrar um sentido para a sua existência, assim como nós, também, precisamos encontrá-lo, para justificar a nossa. Em conclusão, importa considerar que ciência hoje está bem próxima do simbolismo poiético das causas, não dando grande importância aos conceitos clássicos de dependência entre causa e efeito, confirmando o que falou ALBERT EINSTEIN, em paráfrase atual: “a ciência sem religião é agnóstica, ou, ao contrário, religião sem ciência é apenas um criado simbolismo anímico”.