O espírito e seus significados

O ser humano possui uma capacidade ínsita de interpretar tudo que lhe ocorre, organiza ou pensa, graças a presença, em sua mente, de um Espírito que o inspira. Dessa forma, não há nada em nossa mente que não guarde um sinal, signo ou significado inerente a qualquer acontecimento de que temos ciência, colocando-nos, portanto, numa dimensão não natural, considerada transcendente.

A palavra semiótica nos vem do grego semeion, e foi desenvolvida com precisão pelo pensador americano Charles Sanders PEIRCE (1839/ 1914) em sua obra Semiótica (SP. Ed Perspectiva, 1977), com a finalidade de nos demonstrar que, para nós, tudo no Universo possui uma dimensão significativa, refletida em nossa capacidade de organizar, arrumar e dispor qualquer objeto, de forma coerente e estética. Contemporâneo de PEIRCE, Ferdinand de SAUSSURE, desenvolveu a semiologia, aplicada apenas à literatura, procurando o sentido oculto das mensagens literárias, como em Homero ou Proust; como tal, não cabe qualquer confusão entre semiologia e semiótica.

Charles Sanders Peirce

Posteriormente, a semiótica recebeu a contribuição de outros pensadores renomados, como Charles MORRIS, Roman JACOBSON e Thomas SEBEOK, desenvolvendo os aspectos linguísticos, formais e ontológicos da semiótica, que foram considerados essenciais na caracterização plena do que é realmente ela é, que teve início anteriormente em algumas considerações esparsas de John LOCKE.

Para bem compreender a semiótica importa considerar, em primeiro lugar, que tudo no Universo é, para nós, dotado de significação, gerando compreensão ou arranjos estéticos, que posteriormente, são expressos com sinais de sentimento (consideração, beleza, justiça, liberdade, disposição, racionalidade, domínio, poder, fraternidade, vida e virtude). Vê-se, portanto, que a semiótica é uma relação tridimensional, produto das relações criadas a partir do intercâmbio entre significantes e significados.

Dessa forma, importa distinguirmos com mais precisão os conceitos de sinal, sintoma, signo e símbolo. O sinal é um indicativo ou uma pista de que algo acontece ou aconteceu. Assim, nuvens carregadas nos indicam que haverá chuva; marcas no chão nos indicam a passagem de alguém; os sintomas, por seu lado, são sentimentos antecipados de ocorrências futuras ou passadas, como ocorre quando sentimos uma dor em nosso corpo, ou no caso de uma doença.

Já os signos são sinais abstratos, como os números ou nossas palavras. Não obstante, os mais notáveis são nossos símbolos icônicos, aqueles dotados de intensa significação sentimental, como as bandeiras, as logomarcas ou figuras que despertam nosso respeito e consideração, como as imagens dos santos, as fotografias de entes queridos ou paisagens que encantam nossa vista, etc. Agora, num momento de intensas comunicações, a semiótica adquire fundamental importância, bastando ver as imagens combinadas em nossos televisores.

Nossa ciência ou teorias são igualmente processos semióticos. Assim, a preocupação central da semiótica é nos revelar as matrizes ilimitadas das relações concordantes; sendo sua principal missão nos mediar a realidade, um jogo permeado de espiritualidade, nos revelando os arranjos subjacentes da realidade e buscando  os substratos que podem, no fim das contas, esconder-se por trás de uma revelação. Esse exercício lúdico se torna, doravante, o privilégio que as gerações futuras terão de perseguir, se desejarem evoluir de forma promissora. Dessa forma, assumir o espírito como semiótico, é, portanto, a tarefa porvindoura às novas gerações.