O inferno são os outros

Esta frase dita por J.P.SARTRE em 1944 durante a apresentação de sua peça teatral (Huis Clos), representa o ápice de uma cultura individualista que o século XXI não cansa de assumir, com todas as suas consequências maléficas, ocasionando a exasperação de uma política antissocial e egoísta que recusa assumir melhores condições de consideração a respeito da importância de nossa dependência para com os outros. Assim, aceitar o outro com suas virtudes e defeitos é um ato de caridade cristã que identifica nossas próprias qualidades humanas.

Sartre

Estas considerações vêm a propósito de como seria possível o estabelecimento de uma paz duradoura entre judeus e palestinos, um conflito que permanece desde séculos e que, portanto, se nos afigura como  vincado na alma desses povos. Dessa forma, a solução não está no uso de armas, mas num clima de aceitação mútua, só possível através da mudança de suas posturas éticas e culturais.

A propósito, convinha ressaltar que o ser humano é dependente de outros desde o seu nascimento, a partir dos afagos do seio materno, até a sua educação e posteriormente, nas atividades de ente adulto. As características de nossa espiritualidade nos concitam ao amor e à tolerância como essenciais na manutenção da paz, apesar das exigências  para a sustentação de nosso sucesso, diante das lutas pela vida.

Por outro lado, representa um contrassenso que tais guerras fratricidas venham a ocorrer nos territórios onde nasceu o monoteísmo, o que apenas certifica o tamanho da estupidez humana, que os utiliza na legitimação de seus propósitos bélicos, um atestado eloquente do tamanho de nossas incoerências. Ora, isto não deixa de representar, para os ateístas de plantão (R. DAWQUINS, et ali), um motivo sério para afirmar o  comprometimento da religião quando envolvida em tais conflitos bélicos.

Isso não obstante, importa reconhecer que a verdadeira religião não têm nada a ver com isso, ao se apresentar como um discurso coerente sobre a natureza de Deus, não estando comprometida, portanto, com lutas fraticidas. O Cristianismo, sob esse aspecto, se  nos apresenta como a última esperança que pudesse transformar a radicalidade das posições assumidas pelos muçulmanos ou judeus. Dessa forma, a posição dos cristãos é de lamento diante de tantas atrocidades, aguardando as inspirações divinas para que tais mazelas sejam superadas. Portanto, verifica-se que a humanidade se encontra hoje numa encruzilhada cultural desafiadora, que poderia inaugurar novos tempos de esperança para  a paz mundial, se transformados.