Reflexões sobre o padecer humano

De início, diremos que a dor e o sofrimento são físicos, enquanto que o mal é metafísico, caracterizando uma distinção preliminar de muitas consequências, pois os primeiros afetam nossa higidez corporal, enquanto o segundo é apenas um labor mental abstrato e, portanto, resume-se apenas numa síntese mental.

Todos somos mártires do sofrimento e fomos criados por DEUS a partir da ideia de que a vida vale a pena. No que diz respeito aos limites dos sofrimentos físicos, a Natureza foi prudente em estabelecê-los, que estando no limite, provocam o desmaio de seus sofredores, anulando  assim seus efeitos de agonia. Ora, isso se constitui num milagre divino, como é o da própria vida.

Segundo a ética estoica, os sofrimentos por nós sofridos devem ser considerados dentro de uma indiferença que eles chamaram de ataraxia, ou o  tornar-se apático  diante do que a vida nos reserva. Ora, em condições normais, tal coisa é muito rara, se não houver a força de uma fé transcendente que contribua para o suportar tantas dores…

A recorrência sobre a presença constante do sofrimento no Universo vivo, tem conduzido a evolução histórica da cultura pelos caminhos do maniqueísmo, levando nossa mente à ideia de que o sofrimento é causado pelo Mal, personalizado em um princípio antagônico ao Bem. Tal doutrina do pensador árabe MANI (sec III dC), afligiu STO.AGOSTINHO durante um longo período de sua vida, tendo sido superada apenas no sec XIII por STO TOMÁS DE AQUINO e SÃO FRANCISCO DE ASSIS.

Na continuidade, a partir da entrada da humanidade na era moderna, com os descobrimentos e as conquistas científicas, o panorama trágico do mundo se modificou, confirmando ser possível aos humanos obter um razoável nível de saúde e conforto, independentemente de condições religiosas, tornando o mundo laico e ateu.

Contudo, a modernidade parece que não conseguiu destruir os fundamentos da crença, pelos avanços consideráveis da ciência, que diante da complexidade do cosmos, se vê assustada diante de tantas singularidades, tornando improvável o surgimento do Universo apenas a partir de seus condicionantes físicos. Dessa forma, depois da ciência, a vez agora poderá ser o desenvolvimento de uma crença ecumênica, com base nos pressupostos espirituais de criatividade, racionalidade, sentimento e liberdade, as características fundamentais do Espírito que anima o Universo, uma noosfera, como sempre quis TEILHARD DE CHARDIN.