A transformação da matéria em formas vivas nos aparece como um verdadeiro milagre, causando-nos admiração e espanto, apesar dos cientistas nos quererem explicar que tudo resulta de causas naturais. Não obstante, testemunhar que de um ovo possa surgir um animal com bico e penas é uma transformação que se coloca para nós como um fenômeno extraordinário, uma criatividade que se põe acima do jogo aparente das forças primárias da matéria. Continue lendo
As potencialidades mórficas da energia
As potencialidades mórficas da energia dizem respeito às variadas formas em que a mesma se desdobra, a partir da constatação científica de que o Universo é um espetacular palco de transformações energéticas. O mistério, para o filósofo, consiste em observar os devaneios de sua evolução, tendo dado origem a uma diversidade de considerações, ora otimistas, ora pessimistas, de onde tem origem um espanto, conforme ocorreu com ARISTÓTELES. Continue lendo
A espiritualidade do infinito
Vivemos cercados por indicações do infinito, as experiências peculiares de tudo que ultrapassa seus limites, desde as intuições ilimitadas do espaço e do tempo, o suceder infinito dos números ou as paralelas que nunca se encontram, mas também as experimentamos em nossa subjetividade, quando sentimos o infinito do amor e da liberdade, a sensação da imortalidade da vida, a imaterialidade de nossa consciência ou a infinidade do Deus Criador.
O espetáculo cósmico
O cosmólogo PAUL DAVIES em entrevista, declarou: “Por que passamos a existir há 13,7 bilhões de anos num big bang? Por que as leis do eletromagnetismo ou da gravidade são como são? Por que essas leis? O que estamos fazendo aqui? E, em particular, como conseguimos entender o mundo? Por que estamos equipados com um intelecto capaz de destrinçar e entender toda essa maravilhosa ordem cósmica ? É realmente espantoso”.
Pai Nosso Poético-Filosófico
Pai Nosso Transcendente
Criador do Universo Emergente
Vós sois também imanente
Em nosso espírito consciente
Acolhei nossos pedidos insistentes
Dando-nos as graças de que somos carentes
Tornai nosso coração ardente
De amor por toda a gente
O Espírito gosta de se comunicar / The Spirit likes to communicate
A contemplação do Universo como um todo, em todas as suas manifestações, se nos apresenta como um grande espetáculo de processos comunicativos, desde o mundo primitivo das micropartículas, passando pelo mundo vegetal e da vida, até atingir a inteligência humana. Assim cada dimensão da Natureza se resume em formas de intercâmbio de experiências compartilhadas, cada qual contribuindo à sua maneira.
Como as ciências atuais têm verificado, o universo da microfísica manifesta variados processos de relacionamento, desde os saltos quânticos de intercâmbio energético, ora como partículas, ora como ondas, permitindo que a inteligência humana explore todas as suas potencialidades de comunicação à distância, permitindo o surgimento de tecnologias revolucionárias na forma de processar informações.
Agora mesmo estamos verificando um momento de grandes transformações no campo da internet, com o advento de uma quinta geração em rede universal de comunicação (5G), o que permitirá uma revolução nunca antes imaginada pelo homem em termos de contato midiático.
Do mesmo modo, o mundo biológico é outra dimensão notável de trocas de experiências no mundo das comunicações, desde a vegetação das árvores e seus processos de fotossíntese, até a autofagia dos animais inferiores em sua luta pela sustentação de suas existências, confirmando um processo aparente de aleatoriedade, intrínseco em sua marcha evolutiva.
Em nível superior, na dimensão humana, os processos comunicativos se tornam imbuídos de propósitos conscientes, no sentido de atingir algo além dos determinismos naturais, dotados que são de criatividade, racionalidade, sentimento e liberdade, características de ação não existentes nas dimensões inferiores, presentes nelas de uma forma apenas instintiva, inconsciente, como expressou BERGSON.
Finalmente, a experiência humana vive ainda as formas de comunicação transcendentes, espirituais e místicas, através das quais o ser humano atinge a plenitude de suas aspirações, mantendo formas de comunicação com um mundo superior, cheio de graça e alegria, no qual o Espírito se conscientiza de si mesmo, manifestando-se como inspiração, consolo e amor.
The contemplation of the Universe as a whole, in all of its manifestations, is presented to us like a great spectacle of communicative processes, from the primitive world of microparticles, going through the world of vegetals and life, up to the human intelligence. This way, every dimension of Nature can be summarized as a way of exchanging shared experiences, each with its own contribution.
Like scientists of today have been verifying, the universe of microphysics manifests several relationship processes, such as quantic leaps of energy exchange, sometimes acting as particles, other times as waves, empowering the human intelligence to explore all of its potential of communication at a distance, allowing revolutionary technologies of information processing to emerge.
Even now we are living in a moment of great transformations in the field of the Internet, with the development of the fifth generation of the universal communications network (5G), which will allow a revolution never imagined before by men for media content.
In the same way, the biological world is another notable dimension of experiences exchange in the world of communications, from the vegetation of trees and its processes of photosynthesis, up to the autophagy of inferior animals in their struggle for sustaining their existences, confirming a process of apparent randomness, intrinsic to its evolutive march.
In a superior level, in the human dimension, the communicative processes become imbued of conscient purposes, in the sense of achieving something beyond the natural determinisms, gifted of creativity, racionality, feeling and freedom, characteristics of action that are nonexistent in the inferior dimensions, which is only instintive and unconscious, as expressed by BERGSON.
Finally, the human experience still lives the transcendental forms of communication, spiritual and mystical, through which the human being reaches the plenitude of its aspirations, mantaining forms of communication with the superior world, filled with grace and joy, in which the Spirit is conscious of itself, manifesting as inspiration, comfort and love.
RENÉ DESCARTES – Meditações Metafísicas: Meditação Terceira e Meditação Quarta
TERCEIRA MEDITAÇÃO
Há que se procurar uma base para se afirmar que um conhecimento é verdadeiro. De início observo que tudo o que percebo clara e distintamente é verdadeiro, o que me impede de percebê-lo como falso.
Portanto, da ideia que tenho de Deus posso inferir que Ele não é enganador, porém, sinto que ela é bastante frágil, metafísica. Não obstante, o caminho é meditar sobre que gêneros de certeza que tenho em minha mente, para assim certificar-me de sua veracidade.
Percebo entre meus pensamentos que uns são imagens abstratas ou ideias e outros são volições de afirmações e negações e ainda há outros que são apenas quimeras, do que posso concluir que se diferenciam como atos de vontade ou juízos.
Depois percebo que as ideias, tomadas em si mesmas, nunca podem ser falsas, pois mesmo sendo de um objeto concreto ou uma quimera, não é menos verdadeiro que as percebo.
Dessa forma, devo enfocar apenas os juízos, prestando atenção em não me enganar, pois eles, mesmo relacionando-se com as coisas, não possuem nenhuma semelhança substancial com a exterioridade.
Assim, há uma diferença entre as ideias como imagens das coisas e outras que se dão autonomamente. Ora, a concepção da existência de um Deus soberano, eterno, infinito, imutável, onisciente, onipotente e criador universal de todas as coisas tem em si mais realidade objetiva que todas as substâncias finitas que me são apresentadas.
Ainda mais, percebo que deve haver tanta realidade na causa eficiente quanto no seu efeito, este como resultado da autonomia própria de sua causa. Na continuidade, percebo que o que é mais perfeito e, portanto, possui mais realidade, não pode ser decorrência do menos perfeito. Trata-se aqui de uma realidade formal, tão evidente quanto qualquer juízo de fato.
Dessa forma, sou conduzido a concluir que meu espírito contém realidades formais como quadros ou imagens que estariam além de minhas condições naturais e cuja causalidade intrínseca não pode regredir ao infinito, devendo parar numa primeira, origem de toda a série.
Este princípio é a ideia de DEUS, que concebo como uma substância infinita, eterna, imutável, independente, consciente e onipotente e pela qual todas as coisas foram cridas. Concluo, pois, que Deus existe, a partir da ideia de uma substância infinita, que não teria surgido só de mim, que sou uma substância finita.
Esta ideia do infinito não surge a partir da negação do finito, mas sim do fato de que ela foi inserida em mim por Deus, como uma realidade mais consistente do que poderia eu ser. Esta ideia não pode ser falsa, pela mesma maneira que intuo sobre a realidade do frio. O critério da verdade é que as ideias sejam claras e distintas enquanto as concebo. A ideia do perfeito não poderia surgir em mim, que sou imperfeito, mas sim de Alguém que me inspirou a concebê-la.
QUARTA MEDITAÇÃO
A ideia de DEUS não pode ser enganadora, pois esta representa fraqueza e insinceridade e Deus não é assim. Também, a capacidade minha de julgar me foi concedida por Deus e meus erros, como carência, não foram dedos por Deus. Eles são apenas resultado de algum conhecimento que eu deveria possuir.
Assim, percebo que meu reto conhecimento depende de duas coisas, meu entendimento e minha vontade; pelo entendimento, apenas percebo, afirmando ou negando algo; já pela vontade, oscilo em minhas capacidades de escolha, pelo livre arbítrio que me foi concedido pelo Criador.
Portanto, no entendimento sou iluminado pela luz da verdade em meus juízos, o que não acontece com a ação de minha vontade, que fica suspensa pela ação de uma graça divina que me orienta.
PLATÃO – Excerto de A República (livro X)
Platão pretende discutir arte, moral e filosofia na última parte de sua República, iniciando pelo debate sobre criatividade e imitação, ambas produtos da ideia que se tenha de uma paisagem ou de uma mesa. Sem dúvida, a ideia da coisa, criada por Deus, recebe diferentes tratamentos, seja do artista ou do carpinteiro, condicionando, portanto, o estilo imposto à obra.
A arte teria alguma finalidade, além da estética? Sim, porém de forma subsidiária, como aperfeiçoamento das pessoas e da cultura.
PLATÃO – Excerto do Diálogo Hípias Maior
O objetivo de Platão é discutir sobre a natureza do belo. O diálogo começa com uma conversa entre Sócrates e Hípias, o primeiro relatando a interferência de um interlocutor perguntando a Sócrates qual o critério para reconhecer entre o belo e o feio.
Em sua pretensa ignorância, Sócrates apela a Hípias que o ajude a caracterizar o que são o belo e o feio. Iniciando o debate, Sócrates pergunta se o justo não é obtido pelo conceito de justiça, o mesmo não ocorrendo pelo belo, obtido pelo conceito de beleza.
Sócrates pergunta se todas as coisas belas não são apenas aparências do que é belo em si, que deixa belas todas as coisas.
THOMAS HOBBES – Leviatã
Para entendermos o espírito do LEVIATÃ de HOBBES, temos que situar a situação política da Inglaterra no século XVII, abalado pela tentativa de OLIVER CROMWELL de estabelecer a república, pela primeira vez, naquele país, cujo resultado foi o assassinato do rei Carlos I, monarca do qual HOBBES havia sido preceptor.
Assim, segundo HOBBES, a humanidade vive em duas situações: o estado de natureza (status naturae) e o estado de sociedade (status societatis), sendo que no primeiro vigora a lei da guerra de todos contra todos (bellum omnium contra omnes), como nas sociedades primitivas ou em beligerância. Já para viver no estado de sociedade, esta efetua um contrato, no qual todos abdicam da anarquia, pela concessão da soberania a um chefe, absoluto, tornando os demais seus súditos, como garantia de paz.
No LEVIATÃ, o Estado é entendido sob a forma de um monstro marinho, citado no Antigo Testamento, no qual HOBBES pretende que a paz social só será garantida através deste modelo, pois não há outra forma de conter o desregramento das pessoas e da sociedade.
Eis-nos diante de uma atitude pessimista em torno da vida humana em sociedade (homo homini lupus), o homem é o lobo do homem ), e por isso se tornam justificáveis as formas de governos autoritários, antípodas de qualquer sentido democrático, o que o coloca, sem dúvida, como um representante do absolutismo governamental.
Fracassada a revolução de CROMWELL, a Inglaterra só pode conseguir relacionar-se pacificamente com o Parlamento em fins do século XVII, com o acordo célebre assinado na Catedral de Westminster, no qual o Rei reina, mas não governa, o modelo de parlamentarismo monárquico vigente até hoje naquele país.
Verificamos, portanto, que a obra de HOBBES deve ser considerada vinculada a seu tempo, o que representa um sério obstáculo em sua autonomia.